Projectos

Elisa Rodrigues
Elisa Rodrigues

Elisa Rodrigues deu-nos, com As Blue As Red, o seu segundo longa-duração, mais um
argumento, irrefutável e definitivo, para defender a ideia de que uma revelação – estatuto
que muitos convictamente atribuem a Elisa Rodrigues – pode implicar muito tempo e muitas
etapas de crescimento, algumas delas construídas à vista de quem quiser olhar a valer.

Atente-se no caso desta mulher que, neste momento, temos sob observação: acumulou nos
últimos anos muitas experiências de palco, integrando equipas de outros artistas portugueses
ou assumindo o desafio em nome próprio, mesmo que o trabalho se desenvolvesse em
equipa; gravou um álbum de estreia, Heart Mouth Dialogues, em 2011, fazendo confluir para
uma linguagem já personalizada o gosto de múltiplas referências e a aprendizagem com
distintas (em mais do que um sentido…) influências, em especial aquela que lhe valeu,
sobretudo no meio musical, passar a ser identificada como uma voz do jazz, pela
proximidade, pela identidade e pela liberdade; foi recrutada para gravar com a banda
britânica These New Puritans, assumindo essa responsabilidade no álbum Field Of Reeds, de
2013, acabando por manter esse posto de destaque na digressão intercontinental do grupo;
no âmbito dos concertos, tornou-se uma presença familiar e desejada pelos mais atentos às
movimentações musicais por cá, marcando presença em reuniões de largo espectro em
território nacional (os festivais Vodafone Mexefest, Cool Jazz, MED, Douro Jazz), deixando a
sua impressão digital em palcos internacionais de enorme exigência (como o da sala londrina
The Barbican ou do mítico Hollywood Bowl, em Los Angeles).

Quando foi desafiada por Jack Barnett, líder dos These New Puritans, Elisa “apresentou
contas” numa entrevista ao Público. Para dizer que uma colaboração com António Zambujo e
a interpretação de um tema de Amália Rodrigues não significavam que sentisse “qualquer
tipo de linguagem especificamente ligada ao fado” e que mantinha o jazz como seu
“universo”. E mais: “Nos últimos tempos decidi dar-me espaço para experiências novas,
colaborar com outras pessoas e renovar energias, mas não quero descurar o percurso a solo”.
Ainda bem, reconhecerão todos os que se dispuseram a abrir espaço – e ouvidos – para o
mais recente compasso de Elisa Rodrigues.

Fonte: Sons em Trânsito